Embora os jipes feitos pela Volkswagen para o exército alemão durante a Segunda Guerra Mundial sejam bastante conhecidos, muita gente nunca ouviu falar do modelo 181, um utilitário inicialmente criado para fins militares mas que foi vendido também para uso civil.
O VW 181 foi produzido inicialmente na Alemanha e, posteriormente, no México, para atender ao mercado norte-americano. A VW do Brasil chegou a cogitar fabricá-lo, mas a idéia não passou da fase de avaliação. O modelo mostrado nesta matéria, aliás, é o que a VW trouxe para o país para estudos.
Com carroceria de chapa, nenhum isolamento acústico, mecânica simples e muita agilidade, o VW 181 é um um meio de transporte básico. Com baixo custo de aquisição e manutenção, ele é apto a enfrentar terrenos razoavelmente difíceis, embora não disponha de tração nas quatro rodas. O baixo peso e a boa altura em relação ao terreno ajudam bastante.
O acabamento espartano mostra a origem militar: as portas não têm janelas e, para proteger da chuva ou do frio, há apenas coberturas de lona e plástico, encaixadas por meio de pinos. Andar com o jipinho no inverno europeu, mesmo contando com o sistema de ar quente, não devia ser nada confortável.
A capota de lona pode ser dobrada, deixando a carroceria aberta. O pára-brisas é rebatível, uma exigência militar para situações de combate. Os limpadores usam um motor colocado na base do vidro, pelo lado de dentro. A palheta da esquerda, impulsionada por ele, transmite o movimento à da direita por uma haste externa. Um sistema de esguicho é comandado por um pedal à esquerda da embreagem. A água sai de um tanque pressurizado com ar comprimido.
A altura em relação ao solo e a borda elevada em relação ao assoalho (para evitar a entrada de água) não ajudam na hora de entrar no carro. Mas a posição do motorista é boa, dando fácil acesso aos poucos controles disponíveis. Uma curiosidade é a chave de ignição, à esquerda da coluna da direção. O painel é simples, com um só mostrador reunindo o velocímetro e o inidcador do nível do tanque. Um vasto porta-luvas, aberto, conta com uma lâmpada para leitura de mapas na parte superior. No lado interno das portas, há compartimentos para pequenos objetos.
O banco traseiro é inteiriço, mas não comporta três adultos. O encosto pode ser rebaixado total ou parcialmente, aumentando a capacidade do porta-malas traseiro. Na frente há outro compartimento de carga, sob o qual fica o tanque de gasolina, com 40 litros, abastecido por um bocal externo lateral.
Sem ser um 4x4, o VW 181 tem bom comportamento ao andar em terrenos acidentados. O pouco peso, aliado à mais de 30 cm de altura livre do solo, dá ao veículo bastante agilidade. A curta distância entre eixos permite manobrar com facilidade, fazendo curvas fechadas. A direção, embora mecânica, não é pesada. Quem já guiou um Fusca se sente em casa, à vontade com o desempenho do motor e do câmbio.
Um diferencial de deslizamento limitado, feito pela ZF, chegou a ser oferecido como opcional. Outros equipamentos visavam mais o conforto: havia um teto rígido, de aço, e até ar-condicionado, obviamente solicitados pelos clientes norte-americanos
O VW 181 nasceu devido a uma necessidade momentânea do exército da Alemanha Ocidental, que precisava de um veículo de transporte leve, na década de 1960. O veículo da VW era uma versão atualizada e melhorada do Munga (nosso DKW Candango). A escolha do Munga como base aconteceu devido à aquisição da Auto Union pela VW, em 1965.
O novo veículo nasceu para ser fabricado durante pouco tempo e em volume limitado. Por isso, a fábrica decidiu usar o maior número possível de componentes de seus outros modelos: o assoalho saiu do Karmann-Ghia e o Fusca contribuiu com o eixo dianteiro (reforçado e com algumas peças modificadas), o motor, embreagem, instrumentos, direção e tanque de gasolina. Da Kombi, foram usadas a suspensão traseira, caixa de câmbio e a caixa de redução para as rodas traseiras.
Em 1970, o motor original, de 1,5 litro, foi trocado pelo de 1.600 cm3. A maior modificação ocorreu em março de 1973, quando a taxa de compressão do motor foi aumentada, elevando a potência de 44 hp para 48 hp e foi adotada a suspensão traseira do novo modelo do Fusca, o 1302.
Já em 1970, ele começou a ser montado no México, que importava as peças da Alemanha em kits completos (CKD). A partir de 1973, a filial mexicana passou a produzi-lo localmente.
Os Estados Unidos foram o maior mercado para a versão civil do 181. Em 1973 e 1974, cerca de 29 mil unidades foram exportadas para os EUA, onde ele recebeu o estranho nome de The Thing (A Coisa). A VW queria chamar o modelo produzido no México de Safari, nome que poderia ser compreendido com facilidade também nos países latino-americanos, mas a General Motors era dona da marca.
Nos mercados de influência germânica, o 181 é mais conhecido como Kuebel ou Kuebelwagen, nome de seu antecessor, o VW-II, usado na Segunda Guerra Mundial, ou tipo 82. Kuebel, em alemão, significa balde - o termo é usado em referência ao formato dos assentos usados nos veículos militares, com estrutura em metal estampado e laterais elevadas.
O exército alemão chegou a ter 15.200 unidades do VW 181. A partir de 1981, mais de 9 mil foram vendidas ao público ou doadas à Grécia e à Turquia. Até 1992, ainda havia 4 mil unidades em serviço. Áustria, Bélgica, Dinamarca, França (unidades estacionadas na Alemanha), Marrocos, Holanda e Turquia também usaram o veículo em suas forças armadas.
Volkswagen 181
Ficha técnica:
Comprimento: 3,82 m
Largura: 1,64 m
Altura: 1,62 m
Peso: 1.395 kg
Largura: 1,64 m
Altura: 1,62 m
Peso: 1.395 kg
Motor: 4 cilindros, boxer, 1.584 cm3, traseiro, refrigerado a ar
Potência: 48 hp a 3.800 rpm (carburação original)
Potência: 48 hp a 3.800 rpm (carburação original)
Câmbio: 4 marchas
Tração: traseira
Tração: traseira
Pneus: 185SR/14.
Altura livre do solo: 0.396 m
Capacidade do tanque: 40 litros
Velocidade máxima: 112 km/h
Origem: México
O modelo mostrado na reportagem é propriedade do jornalista especializado Roberto Nasser, que o "resgatou" da fábrica da VW, onde era usado pela brigada de incêndio. O veículo pode ser visto no Museu do Automóvel de Brasília.
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